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O aleitamento materno é preconizado pela Organização Mundial da Saúde, e apoiado pela Sociedade Brasileira de Pediatria, até os 2 anos ou mais de idade, sendo de forma exclusiva até o sexto mês de vida, ou seja, sem oferta de água, suco, chá ou qualquer outro alimento, apenas o leite materno. Esse ato tão cheio de vida e proteção para o bebê é tão importante que a partir deste ano, o mês de agosto é todo destinado ao apoio a essa causa e foi nomeado “Agosto Dourado” pela Sociedade Brasileira de Pediatria. Assim, nada mais justo do que trazer informações importantíssimas sobre os benefícios do aleitamento materno na vida do bebê e da criança, mas que vão muito além dos fatores nutricionais desse líquido que vale ouro.
Muitos já sabem que o leite materno é um alimento ímpar, que traz muitos benefícios na saúde do bebê e que se propaga para a vida toda; um alimento adequado nutricionalmente, com grande importância para o sistema imunológico, ou seja, de defesa, por conter células de proteção para o organismo, e que se adapta de acordo com a condição de saúde do bebê e da criança, entre outras qualidades. Mas, além de todas essas qualidades, o leite materno pode ser um grande aliado na aceitação de diferentes alimentos durante a introdução alimentar – preconizada após o sexto mês de vida.
Exatamente assim, o leite materno, diferente da fórmula infantil que tem sempre o mesmo sabor, não tem sabor único. As características e, consequentemente, o sabor mudam desde o início da amamentação, já nos primeiros dias – o primeiro leite, conhecido como colostro, é rico em proteína e imunoglobulina (é a primeira vacina do bebê) e é secretado nos dois a três primeiros dias do parto; depois o leite passa a ser conhecimento como leite de transição, um leite que vai ganhando outras características nutricionais com aumento de carboidrato e gordura e diminuição de proteína; e por fim o leite maduro, com adequação nutricional para manter o crescimento e desenvolvimento do bebê nessa fase em que ele só precisa do leite materno. Além de tudo isso, o leite materno muda de sabor até mesmo durante a mamada; o leite do começo da mamada (leite anterior) é mais fluido e tem maior teor de água, já o leite do fim da mamada (posterior) é mais gorduroso. Assim, seu sabor muda também.
E por quê isso pode, posteriormente, ajudar a criança a aceitar melhor os alimentos? Porque isso possibilita que o bebê já conheça diferentes sabores e se acostume com isso. A introdução alimentar é um processo de aprendizagem para o bebê, com muitas novidades, onde ele começa a identificar novos sabores e texturas, até então só tendo conhecido a consistência líquida do leite. Porém, se o bebê foi exposto ao leite materno, ao invés de fórmulas infantis, ele já teve uma maior utilização das sensações gustativas, sendo mais favorável na aceitação de diferentes sabores. Portanto, mais um benefício que o leite materno tem! Incentive-o.
Sankar MJ, Sinha B, Chowdhury R, et al. Optimal breastfeeding practices and infant and child mortality. A systematic review and meta-analysis. Acta Paediatr. 2015; published online Aug 7.
SOCIEDADE BRASILEIRA DE PEDIATRIA. Manual de orientação para a alimentação do lactente, do pré-escolar, do escolar, do adolescente e na escola/Sociedade Brasileira de Pediatria. Departamento de Nutrologia, 3ª. ed. Rio de Janeiro, 2012. 13-28 p.
Raquel Ricci
Nutricionista do Centro de Dificuldades Alimentares do Instituto PENSI
Especialista em Saúde da Criança e do Adolescente pela UNIFESP
Formação Profissional em Pesquisa Clínica