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“Convencer os médicos de que a nutrição deve ser parte integrante do cuidado com o paciente é uma luta constante”
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“Convencer os médicos de que a nutrição deve ser parte integrante do cuidado com o paciente é uma luta constante”

“Convencer os médicos de que a nutrição deve ser parte integrante do cuidado com o paciente é uma luta constante”

07/05/2024
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O cirurgião gastrointestinal e professor da FMUSP dr. Dan Waitzberg, diretor-presidente do maior congresso brasileiro sobre nutrição clínica e de uma plataforma de educação sobre a área, participa do 7º Congresso Internacional Sabará-PENSI de Saúde Infantil

A viagem para Portugal estava tão próxima e a agenda é tão cronometrada que o dr. Dan L. Waitzberg optou por conceder a entrevista a seguir no trajeto do trabalho de volta para casa, dentro do carro. Diretor-presidente do Ganep Educação, que, além de ser uma plataforma de cursos de nutrição clínica EAD, organiza o maior congresso da área no Brasil, o Ganepão, ele partiria em breve para o Porto para levar algumas de suas inovações para o congresso da Apnep (Associação Portuguesa de Nutrição Entérica e Parentérica).

“Os portugueses vieram ao Ganepão, gostaram muito do que viram, portanto pediram que eu organizasse isso lá. Bolamos sessões interativas de plateia com especialistas, além do Nutritribunal, em que um caso médico é julgado no estilo clássico do direito; alugamos até togas para os participantes”, conta o professor associado da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP), que até o ano passado foi coordenador clínico das Equipes Multiprofissionais de Terapia Nutricional (EMTN) do Instituto Central do Hospital das Clínicas da FMUSP.

Na área de nutrição clínica há mais de 40 anos, o cirurgião e gastroenterologista tem um vasto histórico em pesquisa e educação tanto na FMUSP quanto no Ganep e atuou muito na prática, com equipes dentro de hospitais. Ele se orgulha ao contabilizar que o Ganep Educação treinou mais de 7 mil profissionais de saúde desde 1982, quando foi criado, inicialmente com a missão de revolucionar a terapia nutricional do Hospital da Beneficência Portuguesa de São Paulo. E também por ser autor do livro A nutrição oral, enteral e parenteral na prática clínica, da Editora Atheneu, que vai para a sétima edição e serve de referência em todas as escolas de nutrição do Brasil. Na conversa a seguir ele fala sobre pesquisas, as batalhas da Braspen (Sociedade Brasileira de Nutrição Parenteral e Enteral) contra a desnutrição hospitalar, estratégias para dinamizar os congressos da área e exames avançados que podem mudar o futuro da nutrologia.

Notícias da Saúde Infantil — Como coordenador do Laboratório de Metabologia e Nutrição em Cirurgia Digestiva (Metanutri) da FMUSP, quais foram as descobertas de pesquisa científica e acadêmica mais relevantes?

Dan Waitzberg — São inúmeras, pois a atividade no laboratório é muito intensa: agora temos 15 investigadores de mestrado, doutorado e pós-doc em linhas de pesquisa fortes. Em três décadas, já fizemos 200 publicações em inglês nas revistas internacionais Qualis A, que são as de alto impacto. Há 30 anos começamos uma linha de pesquisa sobre ácidos graxos e ômega 3, realizamos estudos em animais e clínicos e mostramos suas várias funções imunológicas e anti-inflamatórias. Provamos que essas substâncias estimulam atividade antioxidante no fígado, melhorando funções imunológicas em pacientes com câncer, por exemplo. Outra linha de estudos analisa as cirurgias bariátricas em mulheres obesas e diabéticas; investigamos vários índices genéticos, epigenéticos e metabólicos que possibilitam prever se vai ter recidiva de diabetes ou não depois de um ano. Os estudos sobre microbiota mostraram assinaturas microbiológicas em várias doenças, como as inflamatórias intestinais, e nós desenvolvemos um questionário subjetivo que permite sugerir se a pessoa está com disbiose (desequilíbrio da flora intestinal) ou não. Outra pesquisa sobre sarcopenia (perda de massa muscular) em idosos criou uma nova ferramenta de avaliação que foi validada sob o ponto de vista clínico.

Notícias da Saúde Infantil — Quais os principais desafios e as vitórias de quem estuda essa área de nutrologia, em especial em um centro de ponta como a USP?

Dan Waitzberg — Olha, na parte do desafio são dois principais. Um deles é convencer os médicos de que a nutrição deve ser parte integrante do cuidado com o paciente. Estou na área há 40 anos e essa é uma luta que continua até hoje. O segundo desafio é fazer pesquisa no Brasil, pois implica dificuldades para obter verbas e principalmente batalhar para manter jovens valorosos no laboratório, que acabam indo embora por falta de contratação. Por outro lado, das alegrias faz parte ver que muitos dos alunos de pós-graduação se tornaram professores em várias faculdades, como a Federal da Bahia e a do Paraná. E também o reconhecimento internacional. Sou membro da Sociedade Americana de Nutrição (Aspen), e um ponto alto na minha vida foi ter dado a Rhoads Research Lecture, em 2015. Fui o único latino a receber esse prestigiado convite (o palestrante é alguém reconhecido internacionalmente por suas importantes contribuições na área de nutrição e suporte metabólico) e, depois da conferência em inglês, fui aplaudido de pé por mais de 2 mil pessoas em San Antonio, no Texas.

Notícias da Saúde Infantil — Quais são os principais problemas da atualidade na área de nutrição hospitalar?

Dan Waitzberg — Acho que ainda falta uma conceituação global do problema da desnutrição hospitalar e suas causas. Junto com os colegas da Braspen, a Sociedade Brasileira de Nutrição Parenteral e Enteral, nós fizemos advocacy e conseguimos várias portarias importantes do governo. Mas, na prática, em muitos lugares o número de nutricionistas é inferior ao preconizado pelo Conselho de Nutrição, ou seja, não tem gente suficiente para o atendimento hospitalar. O segundo problema é que não existe seguimento depois que o paciente tem alta no hospital. E o terceiro, penso que é garantir esse atendimento do ponto de vista social, pois existe muita desigualdade, as pessoas não têm dinheiro para comprar uma prescrição e nem sempre o governo ampara.

Notícias da Saúde Infantil — Existem formas de mitigar esses problemas?

Dan Waitzberg — Acredito que, além de avançar na educação pública, dá para identificar oportunidades de insumos nutricionais de baixo custo. A soja, por exemplo, é muito pouco usada e poderia ser manufaturada e mais bem utilizada pela indústria dentro do país. Além disso, ter alguns programas subsidiados para quem tem baixa renda. Mas o fato é que o Brasil, comparado com outros países, está bastante avançado. Em 1999, o dr. Campos, quando foi presidente da Braspen, conseguiu fazer com que o governo pagasse a nutrição enteral nos hospitais públicos, e isso poucos países têm.

Notícias da Saúde Infantil — O senhor é diretor-presidente do Ganep, que organiza o maior congresso de nutrição da América Latina, o Ganepão. Pode contar como é sua atuação no congresso e quais são as principais novidades da área?

Dan Waitzberg — O congresso hoje abarca entre 150 e 200 palestrantes, entre eles muitos internacionais, e tem sua temática escolhida ao longo do ano para que o Ganepão seja um balanço entre inovação e pesquisa e, ao mesmo tempo, garanta um olhar prático para as coisas. Originalmente era um congresso de terapia nutricional, mas hoje se abriu para várias áreas da nutrologia. Nos anos pares, abriga um congresso internacional de câncer e nos ímpares, sobre preprosim (prebióticos, probióticos e simbióticos). Além disso, tem como característica sessões inovadoras com casos clínicos discutidos pela plateia e o Nutritribunal, onde se julgam situações controversas, por exemplo, se a quantidade de proteína maior na UTI pode ser responsabilizada pela piora do doente. Contamos com advogado de defesa, de acusação, promotor, testemunhas — é uma dinâmica muito animada. Este ano vai ter um Ganepão VET, para nutrição em veterinária.

Notícias da Saúde Infantil — Nos últimos 40 anos, quais foram os avanços que fizeram melhorar a qualidade de vida do paciente?

Dan Waitzberg — Quando começamos, era tudo muito artesanal; a nutrição parenteral era feita no centro cirúrgico, numa sala, por enfermeiros. Eu desenhei a primeira fórmula enteral brasileira, que foi fabricada por uma empresa brasileira que vendia rações para o Exército. Na época, fizemos a Nutrigastri, primeira fórmula de nutrição enteral em pó. Hoje há líquidos prontos para uso, em recipientes selados, à venda em farmácias. Temos mais produtos aqui do que nos Estados Unidos. Só nos últimos três ou quatro anos passaram a usar emulsões lipídicas com óleo de peixe lá — e no Brasil elas existem há mais de dez anos. Os nutricionistas brasileiros se destacam de longe dos americanos e europeus, em parte pela força da nossa sociedade de nutricionistas, e em parte pela presença do Ganep, pois não tem quem esteja na área sem ter feito o nosso curso de especialização. Nos EUA, a nutrição clínica começou com as enfermeiras. Aqui foi com os nutricionistas e um grupo de cirurgiões; depois se expandiu para os intensivistas.

Notícias da Saúde Infantil — Como enxerga o futuro da nutrologia?

Dan Waitzberg — Acho que tem dois pontos importantes: o primeiro é que o Brasil tem protocolos bem estabelecidos, mas pouco usados no dia a dia. Estamos escrevendo um livro sobre os indicadores de qualidade em terapia nutricional, ou seja, as boas práticas existem, só precisam ser executadas. O segundo ponto é a recente abertura para as ciências ômicas, que têm potencial para revolucionar a medicina. Os estudos genômicos, proteômicos e metabolômicos serão um grande avanço no laboratório. Na hora em que passarmos a dominar essa linguagem, que exige aparelhos sofisticados que em parte vêm dos EUA e da França, conseguiremos entender a interação entre metabolismos bacterianos e o humano. Estimo que, com inteligência artificial e com aprendizado de máquina, vamos conseguir fazer uma nutrição personalizada e de precisão.

Para inscrever-se no 7º Congresso Internacional Sabará-PENSI de Saúde Infantil, CLIQUE AQUI!

Por Rede Galápagos

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