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A série sul-coreana Round 6 é uma febre no streaming, passando na Netflix é a série mais vista no mundo todo. A recomendação é que seja vista por maiores de 16 anos, mas em vários países ela está sendo vista por crianças e por adolescentes menores do que a recomendação.
Em países como Bélgica, Grã-Bretanha e até por aqui pais, professores, escolas e profissionais de saúde mental têm discutido o assunto e recomendando aos pais que não estimulem seus filhos a verem e até proíbam.
O próprio diretor da série, Hwang Dong-hyuk, em entrevista ao jornal “O Globo “, se mostrou chocado com o sucesso da série entre crianças e alertou: “Essa obra não é para elas. Estou perplexo que crianças estejam vendo. Espero que os pais e os professores ao redor do mundo sejam prudentes para que elas não sejam expostas a esse tipo de conteúdo. Mas, se já viram, espero que os adultos as ajudem a entender o significado do que está por trás da tela. Torço para que haja boas conversas. “
A Violência Virtual – violência vivida através de meios ou tecnologias realistas – é um componente inevitável da vida das crianças hoje em dia, e as pesquisas mostram que, sem orientação ou controle, esta vivência tem o poder de tornar as crianças mais agressivas, violentas e com medo.
A Academia Americana de Pediatria (AAP) publicou em 2017 uma declaração de sua política, “Violência Virtual, analisando as evidências dos impactos da violência virtual de crianças, e oferece orientação aos pais, produtores de mídia e pediatras. Num comentário relacionado publicado na mesma edição, se expande sobre os impactos das mídias sociais, smartphones e aplicativos como o Instagram e o YouTube sobre violência virtual e adolescentes.
A Academia Americana de Pediatria segue preocupada com o impacto que a violência virtual tem sobre as crianças e sabe que os pais também estão preocupados, porque é uma questão que nós pediatras, muitas vezes recebemos durante as consultas.
A violência na mídia é muito comum. No ano de 2000, cada filme classificado para adolescentes continham a violência, assim como 60% dos programas de televisão em horário nobre, de acordo com um estudo publicado no JAMA. A avaliação abrangente da violência na tela, em 1998, estima-se que pelo ensino médio de uma criança típica teria visto 8.000 assassinatos e 100.000 outros atos de violência, incluindo estupro e agressão e de lá para cá só piorou.
As pessoas têm a impressão de que as classificações de mídia são decididas pelo governo, mas isso não é verdade. Os criadores de jogos, filmes e programas de televisão aplicam suas avaliações nos próprios produtos.
Atualmente, existem três sistemas de classificação diferentes para filmes, televisão e jogos de videogame. Todos eles são avaliados com base na idade e advertências sobre o conteúdo. Com base nisso, foram realizadas pesquisas com relação às diferenças de censura para cada tipo de mídia, a fim de dissipar a confusão que, geralmente, atinge os pais. Às vezes, os adultos não compreendem a maneira correta de usar os sistemas de classificação a favor da tomada de decisões sobre o conteúdo que os filhos terão contato.
O sistema de classificação atual não é rigoroso ou baseado na ciência. Uma sugestão para os pais é usar a censura como um guia, pois eles devem fazer a lição de casa sobre cada mídia, antes de decidir pela compra do produto e pela liberdade dos filhos assistirem ou jogarem algo cuja classificação não condiz com o conteúdo.
Voltando ao Round 6, é uma série extremamente violenta, onde os personagens para um jogo são escolhidos entre jogadores viciados, endividados de maneira geral e que são convidados para participar de um jogo de onde não podem sair se começarem. O jogo tem 456 participantes e terá 6 rodadas ou rounds, de onde sairá só um campeão vivo, ou seja, 455 pessoas morrerão. Cada rodada tem um jogo infantil como estátua ou batatinha frita 1,2,3; cabo de guerra; bolinha de gude; etc. Como se pode depreender vão morrendo participantes às pencas, tudo mostrado de maneira explícita, cheia de sangue e de maneira bem crua.
Certamente não é um filme para crianças pequenas que não saberão discernir o que estão vendo nem as sutilezas a que o filme pretende mostrar e criticar. Também não acredito que seja um bom espetáculo para adolescentes jovens pois muitos não terão a maturidade emocional e até intelectual para absorver psicologicamente este filme.
Evidentemente estou falando como pediatra, com 40 anos de formado e com grande experiencia em lidar com criança e adolescente e que gosta de estudar as mídias sociais, mas longe de ser um especialista em psicologia ou estudioso do impacto da violência no desenvolvimento dos jovens. Os pais precisam saber colocar os limites e o que querem para seus filhos, saber escolher o que é adequado ou não e saber conversar com eles de maneira clara, objetiva e transparente buscando a construção de algo em comum.
Termino repetindo as palavras do diretor Hwang Dong-hyuk, para mim elas demonstram muita sabedoria:
“Essa obra não é para crianças. Estou perplexo que crianças estejam vendo. Espero que os pais e os professores ao redor do mundo sejam prudentes para que elas não sejam expostas a esse tipo de conteúdo. Mas, se já viram, espero que os adultos as ajudem a entender o significado do que está por trás da tela. Torço para que haja boas conversas. “
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