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Os bebês pequenos não têm consciência de si mesmos e a noção de seus corpos como sendo seus. Não sabem onde começam e onde terminam. Mesmo quando, aos dois meses, os vemos observar as mãos, fascinados por elas, eles não sabem que são suas, que fazem parte de seu corpo. Perdem o interesse logo que elas saem do campo de visão. Muitas vezes, acham que os brinquedos são uma continuação deles mesmos e estranham quando não conseguem pegá-lo, por exemplo.
A consciência de si mesmo, como um ser separado do resto do mundo, surge entre os 9 e os 15 meses de idade, mas somente no período entre 15 e 18 meses é que a noção de como são fisicamente é fundamentada. Surge o “eu” e o “meu” e, futuramente, os sentimentos de vergonha, de culpa, de ciúmes e de afeição.
Em um experimento clássico (Lewis e Brooks, 1978), 96 crianças entre 9 e 24 meses foram colocadas diante do espelho e depois, disfarçadamente, uma manchinha vermelha foi aplicada nos narizes delas. Nenhum dos bebês menores de 12 meses reagiu à nova imagem, demonstrando não saberem que seu nariz não é vermelho. Entretanto, a maioria dos que tinham entre 15 e 24 meses tocaram seu rosto com expressão curiosa, demonstrando que eram capazes de se reconhecer.
Os bebês entre 15 e 24 meses que demonstraram autorreconhecimento no experimento da manchinha vermelha ficavam envergonhados, sorriam e cobriam os rostos com as mãos ao serem elogiados por algum adulto. Já os demais, que não se reconheceram no espelho com o nariz pintado de vermelho, não ficaram embaraçados.
Como o sentimento de vergonha e de culpa só aparecem com o desenvolvimento da autoconsciência, é somente nessa fase que as crianças começam a saber o que podem e o que não podem fazer, o que é certo e o que é errado.
Então é bom ter sempre em mente: a compreensão do mundo pela criança ganha uma nova perspectiva quando ela consegue identificar seu corpo como sendo somente seu.
Leia também: Sobre o auto-controle dos bebês e seu desenvolvimento
Fonte: Berger, Kathleen Stassen – “O desenvolvimento da pessoa – Da infância à terceira idade” – Ed. Ltc – 5ª edição – 2003
Por Letícia Rangel, psicóloga
Atualizado em 7 de maio de 2024