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Em um país que já perdeu a janela de oportunidade do bônus demográfico e que está se tornando uma nação com muitos idosos, e que há muita gente falando em primeira infância, precisamos tomar cuidado para não nos esquecermos dos nossos adolescentes.
Investir em uma transição segura, saudável e produtiva da infância para a vida adulta é fundamental. Hoje, há 1,3 bilhão de adolescentes no mundo, representando 16% de toda a população. No Brasil, estima-se que existam cerca de 20 milhões.
Definidos pelas Nações Unidas como aqueles entre as idades de 10 e 19 anos, os adolescentes vivenciam um período de transição entre a infância e a idade adulta e, com isso, crescimento e desenvolvimento significativos. Como crianças até a idade de 18 anos, a maioria está protegida pela Convenção sobre os Direitos da Criança. No entanto, suas vulnerabilidades e necessidades são distintamente diferentes daquelas das crianças e, portanto, muitas vezes permanecem sem solução.
Embora o país tenha feito grandes progressos em relação à sua população mais jovem, esses avanços não atingiram a todos os brasileiros da mesma forma.
Nas últimas décadas, o Brasil reduziu significativamente a taxa de desnutrição crônica entre os menores de cinco anos, atingindo, antes do prazo, a meta dos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (ODM). Entretanto, a desnutrição crônica ainda é um problema em grupos mais vulneráveis, como indígenas, quilombolas e ribeirinhos. Ao mesmo tempo, aumentamos progressivamente o consumo de alimentos ultraprocessados e a prevalência de sobrepeso e obesidade no Brasil. Uma em cada três crianças de cinco a nove anos possui excesso de peso: 17% dos adolescentes estão com sobrepeso e 8,5% são obesos. Desde 2015, as coberturas vacinais – que vinham se mantendo em patamares de excelência – também entraram em uma tendência de queda.
Além do desafio de acesso escolar, há quem esteja na escola sem aprender. O sistema de educação brasileiro não tem sido capaz de garantir oportunidades de aprendizagem a todos. Muitos meninos e meninas são deixados para trás. Ao serem reprovados diversas vezes, saem da escola. Em 2018, 6,4 milhões de estudantes das escolas estaduais e municipais tinham dois ou mais anos de atraso escolar, índices que certamente pioraram com a pandemia e, principalmente, entre os adolescentes.
Para o Unicef, a face mais trágica das violações de direitos que afetam meninos e meninas no Brasil são os homicídios de adolescentes: a cada hora, alguém entre 10 e 19 anos de idade é assassinado no país [estimativa baseada em dados do Datasus (2018)] — quase todos meninos, negros e moradores de comunidades.
O Brasil tem uma das legislações mais avançadas do mundo no que diz respeito à proteção da infância e da adolescência. No entanto, é necessário adotar políticas públicas capazes de combater e superar as desigualdades geográficas, sociais e étnicas do país e celebrar a riqueza de sua diversidade.
A Fundação José Luiz Egydio Setúbal tem como prioridades para a década 20/30 trabalhar três frentes ligadas às ODS da ONU: 1) Imunizações, 2) Insegurança Alimentar e 3) Saúde Mental. Essas prioridades são para a Saúde Infantil, definida por nós como a saúde da criança e do adolescente.
O Brasil não precisa de mais políticas públicas e talvez nem de mais dinheiro destinado a esse público. Precisamos que elas sejam cumpridas de acordo com o artigo 227 da constituição, com o Estatuto da Criança e do Adolescente e com todas as outras políticas públicas traçadas a partir disso.
Cabe a nós, como sociedade, cobrar de nossos governantes que eles cumpram o que dizem nas campanhas e que façam bom uso do dinheiro público. Não é simples, mas é o que se espera de um país e de governantes que realmente se preocupam com a população.
Fonte:
https://data.unicef.org/topic/adolescents/overview/
Saiba mais:
https://institutopensi.org.br/veja-por-que-seu-pre-adolescente-precisa-da-vacina-contra-o-hpv/