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Por que os médicos devem prescrever o brincar?
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Por que os médicos devem prescrever o brincar?

Por que os médicos devem prescrever o brincar?

06/11/2019
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No Sabará Hospital Infantil temos uma rede de humanização que é liderada pelo nosso time de Child Life Specialist. Dentro desta rede, a psicologia hospitalar tem o papel de prescrever o que cada paciente deve receber como fonte para reduzir seu estresse. Entre as opções no nosso cardápio de atividades contamos com voluntários, músicos, atores, contadores de histórias, terapia com cães e profissionais da psicologia e do child life, que são mais técnicos. A brincadeira no hospital está inserida neste contexto.

No dia a dia da criança, o jogo ou o tempo de brincar é muito importante. O trabalho das crianças, de acordo com a Academia Americana de Pediatria (AAP), é o brincar. A AAP tem um posicionamento político sobre a importância e o poder do brincar e incentiva os pediatras a fazerem tudo o que podem para que as crianças brinquem até mesmo prescrevendo o brincar em suas receitas.

Nós tendemos a pensar em jogar ou brincar como uma atividade extra, como algo a fazer apenas quando não há algo melhor para fazer. Mas as pesquisas mostram que o jogo e o brincar em si são muito importantes.

Confira os benefícios do brincar para crianças pequenas:

  1. Reúne pais e filhos
  2. Promove relacionamentos seguros, estáveis e nutridos
  3. Estimula o desenvolvimento infantil, criando interações “serve and return” (dar-receber) que são cruciais nos primeiros anos de vida. Essas interações entre criança e cuidador literalmente fazem as sinapses do cérebro crescerem e se conectarem.

Quando as crianças crescem, o jogo ensina um conjunto de habilidades importantes chamadas de “funções executivas“. Estas habilidades são: organização, memória de curto prazo, negociação, colaboração e auto regulação. Fazendo uma analogia, funcionam como o “controlador de tráfego aéreo”, permitindo o desenvolvimento de habilidades de comportamento: elas tornam possível a priorização e definição de metas, o controle de nossos impulsos e distrações para que possamos alcançar esses objetivos. Eles também possibilitam que trabalhemos juntos e navegamos em situações difíceis por nós ou com os outros.

Como a maioria das competências, as habilidades condicionadas pelas funções executivas precisam ser praticadas. Em uma brincadeira, especialmente em jogos onde as crianças têm que decidir e assumir comandos, elas e testam e praticam estas habilidades com outros. Sem jogar eles não praticam e podem não a aprender o uso em situações reais. Através do jogo, as crianças aprendem habilidades sociais. Eles aprendem a se divertir, e a usar a sua imaginação e a criar. Desde sempre observamos que a menina brinca com sua boneca para imitar a mãe.

Há muitos tipos diferentes de jogos, e todos eles são importantes.

Brincar com objeto: É quando uma criança brinca com algo, como uma boneca ou um carro, criando suas próprias histórias e diversão. Simula uma situação.

Jogo físico: Incluindo jogo áspero-e-queda. Através deste jogo, as crianças aprendem limites seguros da atividade, a interagir com os pares, e conhecer não apenas seus corpos, mas também criar relacionamentos.

Jogo ao ar livre: Incentiva o exercício e permite atividades ao ar livre, longe das telas, no sol, e os ajuda a interagir e aprender sobre seu ambiente físico.

Jogo social: Através do jogo social, as crianças aprendem sobre amizades, colaboração, negociação, revezando-se, e tudo o mais que precisam para viver e trabalhar com outras pessoas.

Fingir jogar sozinho ou com os outros: Este é um tipo de jogo que está ficando cada vez mais perdido, esquecido pelo crescente uso das telas. Fingir jogo pode ser muito poderoso, permitindo que as crianças experimentem diferentes papéis, imaginem e pratiquem situações — e pensar em si mesmos como poderosos, e o mundo como pleno de possibilidades.

Requisitos para um jogo eficaz

 Tem que haver tempo para isso. Isso parece óbvio, mas a triste verdade é que muitas crianças, especialmente em idade escolar, têm muito pouco tempo disponível para jogar.

Tem que ser autodirigida. Você pode fornecer o espaço, os amigos, e os brinquedos, mas depois disso, a criança deve ter autonomia para conduzir a brincadeira.

Infância mudou. Na minha infância (em grande escala livre), meus amigos e eu jogávamos bola no meio da rua, subíamos em árvores, pescávamos no rio no interior, empinávamos pipa sem grande preocupação de meus pais e dos pais dos meus amigos. A gente se machucava, às vezes seriamente e as cicatrizes estão aí para confirmar. Por muitas razões, isso não é mais típico. A infância é muito mais agendada, mais orientada para a realização de tarefas em torno de telas — e embora existam alguns benefícios para isso, eles   não superam os benefícios de tempo não programado e imaginativo e do jogo interativo.

Podemos tentar fazer mudanças nesses hábitos. Podemos pular algumas atividades, sair da pintura e do papel, comprar alguns blocos ou outros brinquedos sem instruções, desligar   as telas (incluindo o nosso telefone), encontrar espaços ao ar livre, respirar fundo… e deixarmos nossos filhos brincarem.

Se você deseja que seu filho seja bem-sucedido como pessoa, certifique- se de que ele tenha espaço na sua agenda para brincar, principalmente ao ar livre, em jogos coletivos, em jogos com objetos e em todos os tipos de jogos.

Dr. José Luiz Setúbal

Dr. José Luiz Setúbal

(CRM-SP 42.740) Médico Pediatra formado na Santa Casa de Misericórdia de São Paulo, com especialização na Universidade de São Paulo (USP) e pós-graduação em Gestão na Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP). Pai de Bia, Gá e Olavo. Avô de Tomás, David e Benjamim.

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