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A covid-19 tem desnudado a situação caótica da saúde brasileira ao mesmo tempo que mostra a abnegação dos servidores da área. Nas últimas semanas, entramos em uma discussão que eu classifico como surreal sobre a vacinação de crianças. Nem vou entrar neste aspecto, não gastarei mais tinta com um presidente e seus ministros doentes, irresponsáveis e maus cidadãos.
A cepa Ômicron veio com tudo e atingiu de maneira surpreendente todos que não se vacinaram ou não estavam com a vacinação completa, entre elas, as crianças. Desde dezembro, vivemos no Sabará Hospital Infantil uma sobrecarga de trabalho anormal para esta época do ano. Acumulamos um pico de influenza atípico para dezembro, com a H3N2 que persistiu até meados de janeiro e agora estamos na evolução da covid-19 com a Ômicron, que deve ir até meados de fevereiro, segundo os epidemiologistas.
O Sabará, para quem não conhece, é um dos poucos hospitais exclusivamente pediátricos do Brasil, que atende à medicina suplementar, embora não tenha fins lucrativos já que pertence à Fundação José Luiz Egydio Setúbal. Ele é referência em pediatria na cidade de São Paulo e este ano completa 60 anos. É um hospital terciário/quaternário, ou seja, de alta complexidade e com internação de pacientes bem complexos. Há alguns anos temos taxas de ocupação acima de 90% e que, nos meses de outono e inverno, ultrapassam a 105% devido às doenças respiratórias. Dos nossos 110/120 leitos, cerca de 50% a 60% deles são dedicados à Terapia Intensiva devido a complexidade dos nossos pacientes. Os números são variáveis em função da sazonalidade das doenças em pediatria e da nossa busca por leitos extras.
Outro dia escrevi sobre “do que morrem as crianças até cinco anos no Brasil” e boa parte delas morre por falta de um bom atendimento em unidades de terapia intensiva. As cinco principais causas de mortes infantis no Brasil em 2019 foram:
Como 70% dos óbitos infantis ocorrem no primeiro mês de vida, as ações de saúde – após todos esses anos de queda – deveriam focar em tecnologia e acesso a serviços de média e alta complexidade para os bebês que nascem com problemas congênitos ou prematuros, como a criação de UTIs pediátricas, formação de pessoal de saúde adequado ao atendimento de crianças complexas, além, é claro, de acesso à vacinação, combate à desnutrição e melhoria das condições de saneamento, que deve finalmente melhorar com o estabelecimento do marco regulatório do setor.
Agora na pandemia, sobretudo nas últimas semanas, quando as crianças passaram a ser mais atingidas, isso ficou mais evidente. Uma UTI não se faz com tijolos ou equipamentos. Não basta transformar um quarto, comprar um respirador. Demanda investimento em pessoas, na formação de médicos, de enfermeiras, fisioterapeutas, nutricionistas, farmacêuticas, psicólogas e toda uma equipe multidisciplinar. Requer protocolos, treinamentos e uma série de coisas que nossos políticos não estão habituados a fazer que se chama planejamento, programação, economia da saúde e investimento de longo prazo.
Infelizmente, o que vemos é um desmantelamento de um Ministério da Saúde, que possuía equipes técnicas de alto nível, por pessoas que só parecem querer fazer política com ‘p’ minúsculo, sem pensar no bem comum e na população do Brasil.
Enquanto isso, nós da Fundação José Luiz Egydio Setúbal, através do Sabará Hospital Infantil e do Instituto Pensi, vamos tentando contribuir com o nosso objetivo de transformar a sociedade, pois nossa crença é “UMA INFÂNCIA SAUDÁVEL PARA UMA SOCIEDADE MELHOR”. Nossa contribuição vai além da assistência médica, pois promovemos a capacitação de pessoas com cursos, simpósios, programas de educação continuada, estágios e de Residência Médica, com pesquisas clínicas e tudo mais que fazemos.
A Fundação José Luiz Egydio Setúbal tem como objetivo prioritário nesta década atuar em três frentes: Saúde Mental, Imunização e Segurança Alimentar. Também estamos comprometidos com as ODS da ONU e acreditamos que podemos ajudar atuando com a melhoria do acesso à cobertura vacinal, onde já trabalhamos em parceria com a UNICEF e na Segurança Alimentar, colaborando em programas de combate à desnutrição.
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