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Nas últimas semanas, o número de pessoas com covid-19 aumentou. Trata-se de mais uma sub variante: a Ômicron BQ.1. A sublinhagem está associada ao aumento recente de casos de covid-19 na Europa, nos Estados Unidos e na China. No Brasil, já foi localizada no Amazonas, no Rio Grande do Sul e no Rio de Janeiro. A variante BQ.1 tem apresentado uma capacidade de transmissão que preocupa as autoridades sanitárias e de saúde de diferentes países.
A principal preocupação é em relação àquela parcela da população que está em atraso ou não fez as doses de reforço da vacina contra a covid-19, pois esses indivíduos estão mais suscetíveis a contrair a doença e terem uma apresentação mais grave. Especialistas defendem aumentar as coberturas com a 3ª e a 4ª injeção, mas não veem necessidade de ampliar o público que toma a 5ª dose – hoje restrita a imunossuprimidos, como pacientes oncológicos ou transplantados.
As coberturas para a 3ª injeção de reforço no país são de 49% e, para a 4ª, de 16%. A proporção de crianças imunizadas com ao menos uma dose também é considerada baixa: de apenas 53%, na faixa de três até os onze anos. Outras recomendações dos especialistas, sobretudo para grupos mais vulneráveis, é usar máscaras em ambientes fechados e evitar contato em caso de sintomas gripais.
Só 25% das crianças de 3 e 4 anos do Brasil receberam a primeira dose contra a covid em três meses de campanha vacinal, segundo dados oficiais tabulados pelo jornal Folha de S. Paulo. Já a vacinação completa (com duas doses) é registrada em pouco mais 4% das crianças dessa idade no país.
Essas taxas estão muito baixas se compararmos aos primeiros três meses de campanha vacinal do grupo de 5 a 11 anos no país, ocorrida no início de 2022, quando mais da metade dessas crianças já tinha recebido a primeira dose contra a covid. E vale lembrar: a população estimada de 3-4 anos é bem menor, com cerca de 6 milhões em comparação ao grupo de 5-11 anos, que possui mais de 20 milhões de crianças. Os dados foram levantados no DataSUS, do Ministério da Saúde. Foram analisados os registros de primeira e segunda doses de crianças de 3 e 4 anos a partir de julho deste ano, quando a imunização com Coronavac nessa faixa etária foi aprovada pela Anvisa e recomendada pelo governo.
Para piorar o caso, os números são bem diferentes daqueles informados pelo Ministério da Saúde no final de outubro. Na época, em resposta aos atrasos na vacinação, a pasta disse, em nota, que a taxa de doses aplicadas nessa faixa etária estava em cerca de 40%. Quando questionado pelo jornal, o Ministério da Saúde informou que houve um equívoco e que os 40% de crianças vacinadas mencionados na nota, na verdade, se referiam à segunda dose da faixa etária de 5 a 11 anos no final de outubro (hoje, em torno de 49%). E que a cobertura vacinal contra a covid-19 em crianças de 3 a 4 anos está, atualmente, em torno de 15% – com a primeira dose, no caso.
Os motivos de resistência à vacinação contra a covid de pais e responsáveis têm sido investigados por especialistas de todo o mundo. Um trabalho publicado em agosto no periódico “Vaccines” por cientistas de Nova York e da Flórida mostrou que, nos EUA, a resistência dos pais à imunização de seus filhos pequenos tem motivos variados. Além da preocupação com eventuais efeitos colaterais de longo prazo em crianças pequenas, a natureza apressada da aprovação dos imunizantes e a desconfiança em relação a governos e empresas farmacêuticas estão entre as razões da baixa adesão. O estudo mostrou ainda que pais inseguros também eram mais propensos a acreditar que as crianças não eram suscetíveis à infecção e que a vacina não funcionava contra novas variantes.
A vacinação na faixa etária de 3 e 4 anos chegou a ser suspensa por falta de imunizantes em algumas localidades do país, como escrevemos sobre o caso do Rio de Janeiro, que interrompeu a imunização por falta de primeira dose. Até agora, a Coronavac é a única vacina disponível para essa idade. Aprovada em setembro pela Anvisa para crianças a partir de seis meses, a Pfizer pediátrica ainda não entrou no calendário vacinal das crianças abaixo de 5 anos e, recentemente, foi indicada pelo Ministério da Saúde apenas para bebês com comorbidades. As primeiras doses foram entregues ao governo pela farmacêutica no último dia 27 de outubro.
É muito curioso ver que, apesar do sucesso da vacinação de adultos no Brasil, não obtivemos o mesmo sucesso em crianças e adolescentes. No nosso 6º Congresso Internacional Sabará-PENSI de Saúde Infantil, mediei uma mesa que tratava sobre esse assunto e um dos aspectos levantados foi o movimento dos grupos antivax, que é pequeno no Brasil, na vacinação de público em especial. Apesar de termos um governo, principalmente um presidente que fez uma campanha sistemática contra a vacina de covid-19, a população foi a procura das vacinas. O mesmo não ocorreu com os pais.
Outro dia, conversando com uma moça (bem formada, com ensino superior, pediatra, professora e com acesso a toda informação de qualidade), ela argumentava a veracidade da qualidade da pesquisa das vacinas para crianças, dos riscos e toda a ladainha anticiência que conhecemos. Quando argumentei que não vacinar os filhos não era uma atitude cidadã e ética – uma vez que uma criança não vacinada poderia transmitir a doença para um idoso ou para um imunossuprimido, por exemplo – a discussão não foi adiante.
Para termos taxa de vacinação mais altas, precisamos de campanhas mais efetivas, enfáticas e bem-feitas, além, é claro, de ter as vacinas nos locais de vacinação e uma boa informação para os pais. Precisamos conscientizar os pediatras da necessidade de convencer os pais da vacinação.
Como foi dito no início, a covid-19 não acabou e, para sumir de vez, é necessário que todos estejam vacinados com as doses completas e nossa sociedade tenha a consciência de que a vacinação é um ato de cidadania.
Saiba mais:
https://institutopensi.org.br/mais-uma-irresponsabilidade-de-um-governo-irresponsavel/
https://institutopensi.org.br/gonzalo-vecina-em-defesa-das-vacinas-e-da-puericultura/