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[ENTREVISTA] Amor à pesquisa – Gustavo Cabral
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[ENTREVISTA] Amor à pesquisa – Gustavo Cabral

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20/10/2022
  2005   
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Confira abaixo a entrevista exclusiva do imunologista e assessor científico do Instituto PENSI, Dr. Gustavo Cabral, para o livro: “O SABER PARA A SAÚDE INFANTIL – OS PRIMEIROS DEZ ANOS DO INSTITUTO PENSI”

 

Terceiro de quatro irmãos, o imunologista Gustavo Cabral, assessor científico do PENSI, divide a sua vida em duas etapas: antes e depois dos 19 anos. Até essa idade ele frequentava a escola, mas não estudava, já que começou a trabalhar desde muito cedo, aos 7 anos, na roça. Um pouco mais velho, acordava às três da manhã para vender manga, coco e geladinho na feira. Aos 15 anos, saiu de casa e foi trabalhar em um açougue. “Eu observava que todos que tinham estudo conseguiam uma vida melhor. Resolvi investir nisso”, conta ele, com o sotaque carregado de quem nasceu no Creguenhem, povoado com menos de 3 mil habitantes, no município de Tucano, região do semiárido no nordeste da Bahia.

Com as economias que tinha e a ajuda dos pais, cursou aos 21 anos em uma escola particular o terceiro ano do ensino médio, com alunos muito mais jovens que ele. “Depois disso passei no vestibular para ciências biológicas, na Uneb, em Senhor do Bonfim, já que não tinha condições de estudar em Salvador.” Na iniciação científica, encontrou a possibilidade de ganhar um salário. E não parou desde então. Gustavo mergulhou na pesquisa nos últimos 20 anos, estudando, se desafiando e ensinando. Fez mestrado na Federal da Bahia, doutorado na USP, três pós-doutorados em Oxford e trabalhou em Berna, na Suíça. Conheceu o PENSI por intermédio do irmão caçula, William Cabral de Miranda, que é pesquisador e consultor do instituto na área de geoprocessamento e análise espacial.

Gustavo Cabral poderia fazer ciência em qualquer lugar. Escolheu estar no PENSI, um instituto jovem, de apenas dez anos. “Aqui temos tudo de que precisamos para revolucionar muita coisa na ciência.”

 

Do ponto de vista de superação, a sua história é imbatível. No que ela se reflete no seu dia a dia como pesquisador?

Gustavo Cabral — Minha rotina como pesquisador carrega totalmente a minha história, ainda que inconscientemente. Sinto isso quando adapto as coisas, aproveito com a equipe cada oportunidade para amplificar os aprendizados e reorganizo os objetivos de acordo com as dificuldades que vão surgindo. O principal é isto: ser capaz de mudar, de alterar, com agilidade. No fim, o objetivo é alcançado e, geralmente, muito maior do que eu planejo, exatamente como aconteceu na minha vida pessoal. O pesquisador precisa ser incansável.

Depois de três pós-doutorados, a sua carreira estava bastante consolidada fora do Brasil. Por que a decisão de voltar?

Gustavo Cabral — Eu acredito que os desafios me trouxeram de volta. A vontade de fazer algo maior, grandioso, que impacte muita gente. Lá fora, quando as pessoas falavam “Você parece italiano”, “Você parece espanhol”, eu dizia: “Não, eu sou brasileiro”. Sempre tive orgulho da minha origem, de ter nascido no sertão. O tempo voa e eu acho que não faz sentido viver se não for por algo para além de nós mesmos. Eu estava vivendo numa bolha, experimentando o sonho de morar na Suíça, trabalhar em um hospital-referência na Europa. Maravilha. O sonho foi realizado e quis descobrir novos sonhos. Quis voltar e fazer ciência aqui. Para questionar e construir. Fazer pesquisa no Brasil é como se nós imaginássemos um jogo de futebol e precisássemos construir a bola, para depois pensar num lugar para jogar futebol. A gente faz isso aqui, sabe? A gente precisa costurar a bola para ir jogar futebol enquanto o pessoal já está jogando futebol profissional. E isso não quer dizer que nós não sejamos craques na bola, na ciência. Além de desenvolver tecnologia e inovar, sinto que preciso provocar para gerar construções. É importante observar onde a gente está ferido para sarar. Onde tem espaço e necessidade de construir coisas novas.

Você sempre pesquisou doenças infectocontagiosas e doenças negligenciadas, como chikungunya, dengue e zika. Por quê?

Gustavo Cabral — Acredito que seja por causa do meu começo como pesquisador. Na iniciação científica, atuei em comunidades quilombolas e com catadores de lixo. Isso me encantou, me prendeu. Trabalhava fazendo a relação das comunidades com o ambiente no qual viviam, a relação com as doenças negligenciadas, as parasitoses. Doenças vistas, mas que não têm a devida atenção. Essa experiência foi forte para entender a necessidade de focar nessa área. Mas, como falei, sempre fui uma pessoa de adaptações e aprendizados. Durante o mestrado, eu continuei com essa área, pesquisando leishmaniose. No doutorado, quando tive a oportunidade de vir para a USP, trabalhei com aterosclerose. Fiz minha tese nessa área da doença cardiovascular. Mas trabalhei com várias coisas: malária em Oxford, alergia na Suíça e outras doenças crônicas. Aí fui desenvolvendo a habilidade de inovação. Inovar desde a produção de vacinas até a inovação com diagnósticos, sensores. Para isso, eu tive que desenvolver imunobiológicos, anticorpos. Eu já faço adaptação para terapia sobre vários pontos. Mas, sempre, tentando voltar para doenças negligenciadas.

A pandemia acelerou muitas pesquisas. Isso foi bom?

Gustavo Cabral — Sim, a pandemia acelerou muito a ciência. Na verdade, a pandemia fez a gente explorar ao máximo a nossa capacidade intelectual e a velocidade para fazer as coisas. Temos capacidade, mas tudo depende da necessidade, do suporte e de qual tipo de interesse vai estar envolvido. Na pandemia foi interesse total: financeiro, social, das vidas que estávamos perdendo… Os danos da covid, para além das mortes, foram enormes: na educação, na economia, na saúde mental… Então isso nos obrigou a explorar o que nós temos de melhor. A capacidade de criação, de resolver algo que, em teoria, não era possível. A pandemia trouxe isso. As grandes empresas e grandes investidores pegaram o conhecimento que nós produzimos na ciência historicamente, juntaram, catalogaram, organizaram, adaptaram, aperfeiçoaram, criaram patentes e produziram as vacinas. As pessoas falam que a vacina é tecnologia nova e não deveria ser levada para a população. Eu falo: “Meu Deus! Nós estudamos essa tecnologia desde 1990. O primeiro artigo publicado foi na década de 90. Estamos estudando isso há muito tempo”. Só que as empresas viram que se trata de uma mina de ouro e trabalham hoje de forma intensa. Isso ficou escancarado.

Em quais pesquisas está atuando agora?

Gustavo Cabral — Agora eu atuo basicamente nessa grande frente de inovação científica e inovação tecnológica para desenvolver vacinas. Eu tenho uma estratégia padronizada: desenvolver anticorpos para testar as vacinas e produzir anticorpos para testar biossensores, que são diagnóstico avançado. Eu faço esse ciclo. Trabalho com desenvolvimento de tecnologia vacinal, mas também aproveito isso, além da experiência, esse gosto pela inovação, para produzir anticorpos tanto para diagnóstico avançado de biossensores quanto para imunoterapia, que é a linha que estou seguindo agora também. E aí é possível aplicar para zika, dengue, chikungunya e covid-19, mas pode ser adaptado para qualquer coisa. Esse é o objetivo.

Como é ter uma linha de pesquisa aprovada pela Fapesp?

Gustavo Cabral — A Fapesp tem uma linha muito interessante de pesquisa que basicamente ajuda a recrutar pesquisadores que foram para o exterior. Atrai jovens pesquisadores que fazem carreiras de excelência, e para isso, na maioria das vezes, a gente precisa passar em institutos de referência no exterior e universidades de referência. É muito complicado conseguir essas bolsas; muitas pessoas próximas a mim tentam e não conseguem esse espaço. Só que essa régua alta é interessante também: reúne pessoas com muito talento.

Como se deu a parceria com o Instituto PENSI?

Gustavo Cabral — O PENSI surgiu para mim basicamente por causa do meu irmão William, que já era pesquisador do instituto. Em princípio fiquei ressabiado, imaginando que, por ser uma instituição privada, não teria compromisso com o trabalho social científico. Meu irmão insistiu, falou muito bem e tive uma primeira reunião com a dra. Fátima e o dr. José Luiz Setúbal. Aí mudou tudo, especialmente quando entendi o propósito da fundação, mantenedora do PENSI. Pesquisei muita coisa da família Setúbal e entendi os muitos trabalhos espetaculares que eram feitos, desde o tempo da mãe do dr. José Luiz, a Tide Setúbal. Eu me empolguei com a possibilidade de fazer grandes coisas em parceria. Já que meu objetivo é inovar, eu também precisei quebrar as minhas barreiras de achar que a área privada só tem lado ruim. Pelo contrário. E foi definitivo quando o dr. José Luiz contou como ele pretende deixar um legado positivo para o Brasil através da ciência. Falamos a mesma língua. A partir daí, tudo começou a fluir muito bem.

Qual a vantagem de fazer pesquisa em um laboratório que tem um elo com um hospital infantil, no caso o Sabará?

Gustavo Cabral — A gente tem, naturalmente, um suporte pensando em estudos clínicos. Esse é um dos grandes gargalos para o desenvolvimento de vacinas e diagnósticos. A estrutura necessária faz com que os estudos se tornem extremamente caros; a gente fala de milhões em cada fase clínica. Também é possível ampliar os estudos sobre a saúde infantil, um grupo em que não é muito fácil obter informações.

Qual a importância da pesquisa básica pré-clínica?

Gustavo Cabral — A pesquisa básica pré-clínica é a parte mais complicada porque desenvolvemos algo que não sabemos se vai dar certo. É o trabalho de fazer todos os testes de montagem, do que a gente quer fazer, do produto, testar e fazer teste in vitro, depois fazer teste com animais. A gente padroniza a ponto de ter certeza de que quando chegar a seres humanos não vai causar nenhum problema. O estudo pré-clínico é o que dá todo o suporte, o conhecimento para falar “Olha, vou para os estudos clínicos e pronto”. A gente vai avaliar o que já foi supertestado.

Você é um pesquisador jovem, de 40 anos, em um instituto com 10 anos, igualmente jovem. Qual a perspectiva sob esse ponto de vista?

Gustavo Cabral — Acho que essa nossa juventude, minha e do PENSI, traz consigo a vontade de se perpetuar, de fazer coisas a longo prazo, de fazer coisas extraordinárias, coisas que se tornem referência. Inclusive, contribuir para que o PENSI se transforme em um instituto de tradição, mas, claro, sem perder a essência. No sentido de servir o outro. Porque muitas vezes a gente se torna pesquisador de referência, de tradição, e perde o básico, que é ir além do individual. Eu também trabalho em uma instituição tradicional, que é a USP, mas tenho certeza de que na assessoria científica com o PENSI o diferencial é a perspectiva. Como já cantava Raul Seixas: “Um sonho que se sonha só é só um sonho que se sonha só, mas sonho que se sonha junto é realidade”. Quero continuar sonhando e realizando com o PENSI.

 

Por Rede Galápagos

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