PESQUISAR

Sobre o Centro de Pesquisa
Sobre o Centro de Pesquisa
Residência Médica
Residência Médica
Nestas férias, minha prescrição é brincar
Compartilhar pelo Facebook Compartilhar pelo Twitter Compartilhar pelo Google Plus Compartilhar pelo WhatsApp
Nestas férias, minha prescrição é brincar

Nestas férias, minha prescrição é brincar

29/01/2024
  1223   
  0
Compartilhar pelo Facebook Compartilhar pelo Twitter Compartilhar pelo Google Plus Compartilhar pelo WhatsApp

Começo um novo ano cheio de esperança no futuro e quero falar de algo essencial para a saúde das crianças: O BRINCAR. Este é o trabalho das crianças, de acordo com a Academia Americana de Pediatria, entidade que tem um posicionamento político sobre a importância e o poder dessa atividade e incentiva os pediatras a fazerem tudo o que podem para que as crianças a desenvolvam, até mesmo a prescrevendo em suas receitas. Normalmente, entendemos isso como uma atividade extra, quando não se tem nada de melhor para fazer. Mas, as pesquisas mostram que o divertir, distrair, jogar e entreter são essenciais ao desenvolvimento.

Na minha infância – que foi bem livre – jogávamos bola no meio da rua, subíamos em árvores, pescávamos no rio, empinávamos pipa sem dar preocupação aos nossos pais. A gente se machucava, às vezes seriamente, e as cicatrizes estão aí para confirmar. Por muitas razões, isso não é mais típico. A infância atual é muito mais agendada, confinada e mais orientada para a realização de tarefas em torno de telas.

Embora existam vantagens numa vida mais segura, regrada e de acesso às novas tecnologias, elas não superam os benefícios de tempo não programado e imaginativo. Podemos tentar fazer mudanças nesses hábitos. Podemos pular algumas atividades, sair da pintura e do papel, comprar alguns blocos ou outros brinquedos sem instruções, desligar o nosso telefone, encontrar espaços ao ar livre, respirar fundo… e deixarmos nossos filhos brincarem.

Entre os benefícios do brincar para crianças pequenas, está a oportunidade de pais e filhos se reunirem promovendo relacionamentos seguros, estáveis, além de estimular o desenvolvimento infantil, criando interações “serve and return” (dar-receber) que são cruciais nos primeiros anos de vida. Essas interações entre criança e cuidador literalmente fazem as sinapses do cérebro crescerem e se conectarem.

Com crianças um pouco maiores, os jogos ensinam um conjunto de habilidades importantes chamadas de “funções executivas “. Estas habilidades são: organização, memória de curto prazo, negociação, colaboração e autorregulação. Fazendo uma analogia, funcionam como o “controlador de tráfego aéreo”, permitindo o desenvolvimento de habilidades de comportamento. Tornam possível a priorização e definição de metas, o controle de impulsos e distrações para que possamos alcançar esses objetivos. Também possibilitam que trabalhemos juntos e navegamos em situações difíceis por nós ou com os outros.

Como a maioria das competências, as habilidades condicionadas pelas funções executivas precisam ser praticadas. Em uma brincadeira, especialmente em jogos onde as crianças têm que decidir e assumir comandos, elas os testam e praticam estas habilidades com outros. Sem jogar, não praticam e podem não saber reagir em situações reais. Através do jogo, as crianças aprendem habilidades sociais. Eles aprendem a se divertir, a usar a imaginação e a criar. Desde sempre, observamos que a menina brinca de boneca para imitar a mãe.

Outro aspecto, talvez menos conhecido, é entender o brincar como uma fonte esperança. Todos que, como eu, trabalham com crianças doentes em hospitais, certamente já vivenciaram isso.  Brincar as ajuda a entender o seu mundo interno, e o mundo externo. As experiências lúdicas podem simultaneamente proporcionar às crianças um local de conforto, de resolução de problemas, oferecer uma oportunidade para expressar sentimentos por meio da fantasia e esperança: uma poderosa forma de resiliência.

Outro aspecto é entendê-lo como uma fonte esperança. Todos que, como eu, trabalham com crianças em hospitais já vivenciaram isso. As Child Life Specialists americanas Peggy O. Jessee e Laura Gaynard – especialização ainda nova no Brasil, que qualifica profissionais da área da saúde para garantir bem-estar aos pequenos que passam por longas internações – o brincar é a ferramenta mais poderosa das crianças. Ajuda a compreender o seu mundo interno e externo, a aumentar as competências sociais e a assumir a responsabilidade pelas ações através de experiências significativas. É particularmente importante que as crianças tenham oportunidades de brincar quando se encontram em situações estressantes.

Graças a isso, crianças expostas a ambientes perigosos e a eventos ameaçadores da vida podem fazer adaptações positivas às tensões. Podem se recuperar e obter sucesso frente à adversidade. Aos pais que me leem: se você deseja que seu filho(a) seja bem-sucedido(a) como pessoa, certifique- se de que ele(a) tem espaço na agenda para brincar, principalmente ao ar livre, em jogos coletivos ou sozinho(a) com objetos.

*Artigo publicado originalmente no jornal O Globo, em 30/12/23.

Dr. José Luiz Setúbal

Dr. José Luiz Setúbal

(CRM-SP 42.740) Médico Pediatra formado na Santa Casa de Misericórdia de São Paulo, com especialização na Universidade de São Paulo (USP) e pós-graduação em Gestão na Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP). Pai de Bia, Gá e Olavo. Avô de Tomás, David e Benjamim.

deixe uma mensagem O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

posts relacionados

INICIATIVAS DA FUNDAÇÃO JOSÉ LUIZ EGYDIO SETÚBAL
Sabará Hospital Infantil
Pensi Pesquisa e Ensino em Saúde Infantil
Autismo e Realidade

    Cadastre-se na nossa newsletter

    Cadastre-se abaixo para receber nossas comunicações. Você pode se descadastrar a qualquer momento.

    Ao informar meus dados, eu concordo com a Política de Privacidade de Instituto PENSI.