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O bullying está aí, cada vez mais presente
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O bullying está aí, cada vez mais presente

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20/02/2024
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O bullying tem sido um dos maiores problemas encarados no ambiente escolar e a principal forma de violência praticada nesse espaço. Mas, afinal, o que é bullying nos dias de hoje? Antes de tudo, precisamos ter em mente que qualquer tipo de agressão e constrangimento com a intenção de inferiorizar alguém é, indiscutivelmente, errado e gera consequências péssimas para a saúde mental das pessoas – e, se você conhece alguém que disse que sofreu bullying e que isso não impactou a sua vida, não quer dizer que não existe sofrimento com essa forma de violência. Precisamos falar sobre o tema e ficar atentos. As consequências são muitas e só podem ser enxergadas ao serem discutidas.

Em uma revisão sistemática e metanálise publicada no The Lancet Child & Adolescent Health, foram pesquisados bancos de dados de vários periódicos médicos, com artigos que relatavam dados sobre resultados de bullying atual (no último ano), entre crianças e adolescentes (de 4 a 17 anos), com diagnóstico de uma condição de neurodesenvolvimento ou psiquiátrica fornecido por um profissional de saúde. O tipo de bullying foi classificado como tradicional (físico, verbal ou relacional) ou como cyberbullying (danos intencionais e repetidos, infligidos através de dispositivos eletrônicos e redes sociais), e o envolvimento no bullying foi classificado como vitimização, perpetração e perpetração-vitimização. Foram recolhidas medidas de saúde mental e avaliadas as associações com o envolvimento em bullying.

Com a inclusão de 212 estudos na metanálise, a amostra total compreendeu mais de 126 mil casos (idade média 12,3 anos, 38% meninas) e 500 mil controles (12,5 anos, 47% meninas). Para o bullying tradicional, a prevalência agrupada foi de 42%, para vitimização, 24%, para perpetração e 14% para perpetração-vitimização. Para o cyberbullying, a prevalência foi de 22% para vitimização, 20% para perpetração e 21% para perpetração-vitimização. Em comparação aos grupos de controle, os jovens com problemas de neurodesenvolvimento ou psiquiátricos tinham maior probabilidade de se envolverem em bullying tradicional e cibernético como vítimas. O envolvimento no bullying foi associado a pontuações mais elevadas em medidas de saúde mental em jovens com condições neurodesenvolvimentais ou psiquiátricas, particularmente sintomas internalizantes e sintomas externalizantes.

Esse estudo destaca o envolvimento com o bullying como um fator de risco prevalente em jovens com condições neurodesenvolvimentais ou psiquiátricas que podem aumentar a carga de doenças por meio de seus efeitos negativos na saúde mental. As intervenções dirigidas a estas populações vulneráveis ​​são necessárias para melhorar a sua saúde mental e a sua futura integração social.

Segundo um levantamento realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), cerca de 23% dos brasileiros declararam ter sofrido bullying em algum momento da sua vida. Assim, nesse cenário, esse tipo de violência se apresenta como um problema de saúde pública no Brasil e no mundo.

Dados da Organização Mundial da Saúde (OMS) mostram que cerca de 800 mil pessoas cometem suicídio por ano, caracterizando a segunda maior causa de mortes entre jovens na faixa etária de 15 a 29 anos, e o bullying pode estar relacionado a essa estatística.

De acordo com um levantamento feito pelo Instituto Sou da Paz, no final de novembro do ano passado, desde 2003 o Brasil registrou 11 episódios de ataques com armas de fogo em escolas brasileiras. Por meio das pesquisas apresentadas no Rio de Janeiro pelo psiquiatra estadunidense Timothy Brewerton, entre os anos de 1966 a 2011, foram 66 ataques no mundo em escolas em que 87% dos atiradores sofreram bullying e foram movidos pelo desejo de vingança.

De acordo com um estudo realizado pelo Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF), mais de 150 milhões de adolescentes entre 13 e 15 anos de diferentes países já tiveram alguma experiência de violência dentro ou ao redor da escola envolvendo seus pares. Além disso, somente no Brasil, 15% dos estudantes com idades semelhantes já mencionaram faltar à aula por não se sentirem protegidos dentro e fora do ambiente escolar, e outros 7,4% foram vítimas de bullying. Na outra ponta, 20% dizem já ter praticado essa violência. Dessa forma, a escola precisa ser vista como um lugar de acolhimento e de escuta para que possa ser um alicerce contra a luta de comportamentos prejudiciais adquiridos por esse problema social.

Para entender o problema da violência e seu impacto na saúde mental das crianças e adolescentes, a Fundação José Luiz Egydio Setúbal realizará seu VI Fórum de Políticas Públicas em outubro desse ano, dedicado ao tema. Nele, teremos a oportunidade de debater a violência nas escolas e o bullying.

Fontes:

Saiba mais:

Dr. José Luiz Setúbal

Dr. José Luiz Setúbal

(CRM-SP 42.740) Médico Pediatra formado na Santa Casa de Misericórdia de São Paulo, com especialização na Universidade de São Paulo (USP) e pós-graduação em Gestão na Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP). Pai de Bia, Gá e Olavo. Avô de Tomás, David e Benjamim.

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