PESQUISAR

Sobre o Centro de Pesquisa
Sobre o Centro de Pesquisa
Residência Médica
Residência Médica
“A gente não dá metade do que a gente ganha. Eu amo ser voluntária”
Compartilhar pelo Facebook Compartilhar pelo Twitter Compartilhar pelo Google Plus Compartilhar pelo WhatsApp
“A gente não dá metade do que a gente ganha. Eu amo ser voluntária”

“A gente não dá metade do que a gente ganha. Eu amo ser voluntária”

15/12/2022
  1141   
  0
Compartilhar pelo Facebook Compartilhar pelo Twitter Compartilhar pelo Google Plus Compartilhar pelo WhatsApp

A psicóloga Rebeca Coeli Lancha Moreira (no centro, nesta foto feita antes da pandemia) encontra motivação em cada ato como voluntária no Sabará Hospital Infantil — que nesta época inclui a produção de Sonequinhas, naninhas de tecido, e brinquedinhos para as crianças internadas. O que move o voluntário? “Vontade de estar próximo do outro, de se doar e muita alegria… Porque é essencial ter alegria no que se faz; e vontade de estar fazendo.”

 

A ação como voluntária na unidade de internação do Sabará Hospital Infantil tornou-se tão importante na vida da psicóloga Rebeca Coeli Lancha Moreira que os filhos, já adultos, até cobram, brincando: “Para a mamãe é primeiro o Sabará, depois somos nós”. Ela conta isso sorrindo, enquanto costura mais uma pilha de naninhas de tecido que serão entregues às crianças internadas neste fim de ano. “O hospital está lotado. É preciso costurar muitas dessas naninhas, que nós chamamos de Sonequinhas”, diz. Em dupla com sua colega Sabrina Freire, ela visita os quartos e oferece apoio e atenção a pacientes e suas famílias, num trabalho realizado por um grupo de dezenas de outras voluntárias e voluntários e que faz uma enorme diferença na vida de muita gente. Uma visita de apenas 15 ou 20 minutos tem o potencial de reduzir a ansiedade de pacientes e famílias e de influenciar mudanças de ânimo em todos.

Com sete anos de experiência, Rebeca também treina voluntários novatos e ensina que é muito importante estar aberta às situações que encontrará em cada quarto e sentir com cuidado o que oferecer em cada caso, essencialmente atenção e acolhimento, na forma de escuta, de conversa, entretenimento, jogos e brinquedos de papelão, feitos pelos próprios voluntários, para serem deixados nos quartos. É preciso flexibilidade para atender aos variados perfis de pacientes. “Há crianças que praticamente vivem no hospital, crianças que estão fazendo alguma cirurgia e vão sair logo, tem bebês, tem adolescentes.” O trabalho em dupla permite que uma dê atenção à mãe, que quer conversar um pouco mais, enquanto a outra foca totalmente na criança.

Presença, corte e costura

“Gostamos muito quando as mães, pais, avós, os familiares ali presentes, também participam das brincadeiras e se mantêm unidos, porque ficar dentro de um quarto de hospital pode ser uma coisa muito complicada”, relata, mostrando como é essencial que o voluntário compreenda o contexto mais amplo de sua atuação. “É uma situação que gera muita ansiedade, não só nas crianças mas também nos pais. Ansiedade pela situação, porque eles não estão no trabalho… São milhões de ansiedades. E quarto de hospital é quarto de hospital; a toda hora entra alguém. Então, procuramos chegar com alguma coisa tranquila, mostrando que não vamos mexer na criança, pois algumas têm a expectativa de que ‘lá vem mais uma agulha’, ou algo assim. Procuramos explicar que não se trata disso e estamos sempre prontas para aceitar quando dizem não. Porque às vezes dizem ‘Não, eu não quero’, e temos de respeitar isso.”

Rebeca enfatiza que, quando o voluntário entra no quarto, precisa ter sensibilidade para entender o que se passa. “Às vezes tem uma criança com um problema gigantesco e você está entrando naquele momento tão íntimo daquela família para ajudar no que estiver ao seu alcance, conversar muito, falar, ouvir, trazer conforto.” O impacto de uma breve visita pode ser muito sutil. Em outras vezes, o resultado da ação fica bem evidente. “É quando você entra no quarto e encontra o pai, a mãe e a criança, cada um no tablet ou no celular; então você propõe uma atividade e depois sai do quarto vendo que eles continuam juntos, interagindo, em torno do jogo que você deixou. Isso não tem preço. É uma satisfação maravilhosa.”

Cultura de doação

Realizar-se com o bem do próximo é um sentimento comum às pessoas que se dedicam ao voluntariado, é claro. E para toda história comum a todos há sempre a história de cada um. Rebeca acredita que despertou para essa disposição observando os exemplos da avó paterna, Irene, numa época em que nem se usavam muito as palavras voluntário ou voluntariado. “O que minha avó fazia era doar-se ao outro, estar disponível. Esse espírito de doação ficou muito forte em nossa família, influenciando nossas escolhas”, diz. A decisão pela profissão de psicóloga vem daí. Rebeca atuou durante anos atendendo em um orfanato e acabou se tornando diretora da instituição. Em 2015, já não trabalhando mais e com os filhos crescidos (“dois meninos e uma menina, de 35, 33 e 29 anos”), ela decidiu procurar um programa de voluntariado. Lembrou-se do Sabará, aonde levava suas crianças, ainda no tempo em que o hospital funcionava na rua Antônia de Queirós. “Foi uma coisa minha, que eu queria fazer por mim, dentro daquilo que achava ser legal, que era uma coisa que eu gostava, que era um hospital de crianças.”

O fato de morar perto do Sabará ajuda Rebeca a ser uma voluntária que consegue estar muito presente e disponível para eventuais trocas de dias e horários, condição que foi providencial durante a pandemia. Até porque a atividade do voluntário não se restringe às visitas aos quartos. Inclui também uma série de treinamentos, além do trabalho de preparação de materiais, como os brinquedos e naninhas, e um apoio afetivo materializado em gestos simples e de grande importância. Com os protocolos adotados na pandemia, de uma hora para outra, os voluntários já não podiam entrar no hospital. “A equipe que coordena o voluntariado teve a sensibilidade de começar a trazer coisas para a gente fazer em casa. Então, elas traziam aqui na minha casa o material básico para todos os brinquedos, e a gente fazia e montava os kits. Por morar perto, fui fazendo uma quantidade talvez um pouco maior, porque era mais fácil trazerem pra cá. Depois, com o tempo, quando começou a ficar mais tranquilo, a gente ia buscar na recepção do hospital e levava lá de volta.”

Cartas na pandemia

O kit a que ela se refere é tudo o que é entregue às crianças internadas e, principalmente no pós-pandemia, brinquedos feitos com papéis e outros materiais doados por parceiros, bichos de papelão, jogo da velha, dama, dobradura, dedoches, kits com lápis de cor, material para fazer pulseiras… “A gente fazia, recortava, colava, cada uma de nós fazia em sua casa, dispunha nos envelopes, as meninas da coordenação passavam pra pegar e entregavam às enfermeiras e elas entregavam às crianças. E também fazíamos cartas para as crianças — e para as enfermeiras, manifestando nosso apoio, embora não pudéssemos estar com elas naquele momento.”

Nesse processo, Rebeca recuperou ainda outro legado de sua avó Irene, com quem aprendeu a costurar na adolescência em uma máquina a pedal que ela conserva até hoje. Com tanto material para fazer, ela voltou a costurar depois de décadas e recebeu da coordenação do voluntariado uma máquina de costura elétrica. “Eu coloquei a máquina nova sobre a bancada da antiga e, no primeiro dia em que eu fui costurar, foi uma emoção maravilhosa. Eu chorei porque foi um resgate mesmo da minha vida ali fazendo pra uma outra pessoa, para crianças que eu gosto.”

Antes da pandemia eram organizadas festas de fim de ano no hospital. Esse cenário mudou. Neste ano não haverá festas nem voluntários dentro do hospital no dia de Natal. Mas Rebeca e seus colegas de voluntariado estarão presentes em cada quarto, na forma das naninhas, aqueles pequenos travesseiros em forma de bichinhos, feitos para as crianças abraçarem e se aconchegarem. São as tais Sonequinhas, que, como se vê na história de Rebeca, são feitas com muito mais do que tecido, agulha e linha.

Por Rede Galápagos

 

Leia mais

[ENTREVISTA] Fator humano — Sandra Mutarelli Setúbal 

Um terço dos brasileiros faz trabalho voluntário

LIVRO — A história dos primeiros dez anos do Instituto PENSI

Comunicação PENSI

Comunicação PENSI

deixe uma mensagem O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

posts relacionados

INICIATIVAS DA FUNDAÇÃO JOSÉ LUIZ EGYDIO SETÚBAL
Sabará Hospital Infantil
Pensi Pesquisa e Ensino em Saúde Infantil
Autismo e Realidade

    Cadastre-se na nossa newsletter

    Cadastre-se abaixo para receber nossas comunicações. Você pode se descadastrar a qualquer momento.

    Ao informar meus dados, eu concordo com a Política de Privacidade de Instituto PENSI.