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As crianças não são apenas adultos em miniatura. Essa é uma distinção que importa imensamente na medicina. No Sabará Hospital Infantil, nestes 15 anos que estou à sua frente, tivemos vários gestores médicos que não são ou não eram pediatras, e me punha a explicar as particularidades entre crianças e adultos, muitas vezes não tão óbvias mesmo para os médicos. Isso sem citar que os sintomas e as doenças da infância são diferentes da fase adulta.
As taxas metabólicas das crianças são mais altas do que as de um adulto, portanto, se houver uma interrupção no suprimento de oxigênio, elas ficarão cianóticas (arroxeadas) ou hipóxicas (falta de oxigênio) mais rapidamente. Com mais superfície da pele proporcional ao seu peso, eles perdem o calor do corpo mais rapidamente, o que num bebê pequeno pode ser drástico.
Além das diferenças entre o organismo de uma criança e de um adulto, os pequenos também precisam de equipamentos menores e procedimentos mais precisos, o que significa que o menor erro pode se tornar fatal. Além disso, elas vêm ao hospital infantil numa comitiva de pais e, às vezes, avós ou outros membros das famílias que também exigem educação, apoio e interação de médicos, enfermeiros e outros profissionais. Saber lidar com eles é essencial e faz parte do tratamento.
O fato de as crianças serem diferentes dos adultos nem sempre foi a visão predominante. Mesmo em meados do século XIX, foram necessárias gerações para apreciar plenamente as diferentes necessidades médicas das crianças. No final do século 20, pasmem, por exemplo, os médicos acreditavam que os recém-nascidos não tinham redes neurológicas para sentir dor, quando na verdade tinham uma memória longa. Um estudo de meninos que não receberam anestésico local durante a circuncisão constatou que eles experimentaram respostas mais intensas à dor nas vacinações posteriores. Apenas em outubro, a Rede Federal de Aquisições e Transplantes de Órgãos, que supervisiona os transplantes nos EUA, lançou novas diretrizes que exigem treinamento em pediatria para médicos que realizam transplantes em crianças segundo a Academia Americana de Pediatria.
As especificidades do tratamento de crianças começam com sua fisiologia. Um exemplo é o de como elas reagem à medicação. No mundo adulto, quando você vai ao médico, recebe uma dose padrão de um medicamento. Já na pediatria não podemos fazer isso, porque as crianças metabolizam os medicamentos de maneira muito, diferente. O menor volume sanguíneo de uma criança significa que uma dose específica de medicamento terá um efeito muito mais profundo em um paciente jovem. Os pesos são muito variáveis nos primeiros anos de vida também e as doses precisam ser adaptadas a isso.
Tratar crianças vai além do puramente físico, temos que lidar com questões sociais, de desenvolvimento e psicológicas e, é claro, com ansiedade. Por isso no Sabará Hospital Infantil há uma grande preocupação com este aspecto do cuidar. Os pacientes, por exemplo, podem escolher um perfume para a máscara de anestesia e os pais geralmente podem acompanhar uma criança até a sala de operações.
O Sabará também criou uma unidade pioneira no Brasil de Child Life Professionals para ajudar crianças e famílias a lidarem com procedimentos médicos e se recuperarem deles. Entre as atividades do profissional estão incluir e apoiar famílias nas unidades de internação ou de terapia intensiva, acalmar uma criança por meio de atividades ou, por exemplo, organizar uma comemoração de aniversário para um paciente que está internado a muito tempo, entre outras coisas.
Os Child Life Professionals são profissionais da saúde, que também são clínicos e têm seu próprio grau acadêmico focado no desenvolvimento infantil. Nos Estados Unidos, devem ser certificados pela Association of Child Life Professionals, já aqui no Brasil não existe esta profissão, mas nossos profissionais estão sendo treinados em hospitais americanos com todas as exigências para exercer a profissão lá.
No Sabará Hospital Infantil, uma empresa de cenografia criou uma maneira de transformar a sala de exames em um quarto acolhedor, onde pais e responsáveis podem usar um manequim realista para praticar a troca de curativos ou conectar uma linha de nutrição – tarefas que eles precisam realizar em casa sem supervisão. Uma tomografia é uma nave espacial, ou uma máquina de Raio-X é uma viagem ao espaço e cada andar pode ser uma paisagem de um bioma diferente: este ambiente ao mesmo tempo lúdico e amigável ajuda no conforto e na diminuição do estresse, o que muitas vezes só se consegue num hospital inteiramente dedicado à crianças, pois todos ambientes e pessoas estão caracterizados e treinados para atendê-las.
Em poucas linhas e de maneira simples, acredito ficam evidentes as vantagens de um hospital infantil como o Sabará frente a um hospital geral (comparando hospitais do mesmo nível de serviço e de complexidade). Sou muito orgulhoso do trabalho desenvolvido nestes 15 anos pela equipe do Sabará e com os resultados obtidos, que estão levando nosso hospital a um patamar de excelência em pediatria comparável aos grandes hospitais do Brasil e da América Latina. Parabéns a todos!
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Para atuar com crianças, os profissionais tem que gostar primeiramente de crianças, conhecer um pouco da fisiologia humana e entenderá melhor o processo cuidar de crianças, sou enfermeiro de Saúde da família e tenho uma imensa vontade de trabalhar somente com crianças.