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A dificuldade alimentar é um termo amplo, que engloba uma série de situações que resultam em uma ingestão inapropriada de alimentos, insuficiente para alcançar os requerimentos nutricionais. Esta condição pode se apresentar com tempo prolongado de refeição, recusa de alimentos, tempo de refeição estressante e disruptivo, distrações excessivas ao se alimentar, comer mais durante o período noturno, uso prolongado e predominante de mamadeira, falha para avançar nas texturas e consistências dos alimentos e dificuldade para comer sozinho. (1, 2)
As alterações do comportamento alimentar infantil geram uma preocupação por parte dos pais pelos possíveis prejuízos ao neurodesenvolvimento e crescimento, assim como pelas interferências emocionais e sociais, podendo afetar o bem-estar da criança na família e sociedade.
Por sua vez, a alergia alimentar é uma reação adversa consequente de uma resposta imunológica anormal que ocorre após a ingestão de determinados alimentos. A reação é desencadeada por diferentes mecanismos imunológicos. (3)
Os sinais e sintomas da alergia alimentar podem envolver alterações na pele (urticária, eczema, dermatite), no sistema respiratório (tosse, sibilância, desconforto respiratório), no sistema gastrointestinal (vômitos, refluxo, diarreia, dor abdominal), ou ainda no sistema cardiovascular (hipotensão, tontura).
Para a criança que apresenta dificuldade alimentar, é fundamental avaliá-la com a história clínica completa, composta pela anamnese e exame físico, incluindo avaliação da presença de sinais de alerta para a investigação de doenças orgânicas associadas à dificuldade alimentar. Alguns desses sinais de alerta são: aparente dor ao engolir, disfagia, vômito, diarreia, refluxo e sangue nas fezes. (2)
Por trás de uma queixa de dificuldade alimentar pode existir uma alergia alimentar associada, que desencadeia, mantém ou piora os sintomas e comportamentos que resultam no afastamento da criança das refeições, acentuando a dificuldade alimentar.
A associação entre alergias alimentares e dificuldade alimentar é documentada na literatura, demonstrando que as dificuldades alimentares são mais comuns em pacientes com alergias alimentares, e que esses pacientes tendem a apresentar mais sintomas como refluxo, vômitos e baixo crescimento ponderal. (4)
As crianças com alergia alimentar e dificuldade alimentar apresentam maior frequência de sintomas gastrointestinais do que aquelas com alergias alimentares sem dificuldades alimentares. (5) Crianças com dietas de exclusão da proteína do leite de vaca, por exemplo, apresentam mais comportamentos de evitação, recusa ou seletividade alimentar durante a infância. (6)
É importante reconhecer que alergia alimentar e dificuldade alimentar são duas condições que podem coexistir, e podem ser a causa ou consequência uma da outra. A partir da compreensão dessa associação e dos principais mecanismos envolvidos, pode-se propor um plano de tratamento mais assertivo, que englobe as duas condições e que contribua para o estabelecimento de novos hábitos e comportamentos alimentares saudáveis para a criança e sua família.
Referências:
Texto por:
Laura Catalina Chavarro
Pediatra, nutróloga pediátrica em formação pela UNIFESP e estagiária do Instituto PENSI
Nathalia Gioia de Paula
Pediatria e gastroenterologista pediátrica do Centro de Excelência em Nutrição e Dificuldades Alimentares (CENDA) do Instituto PENSI