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Como pediatra, pai e avô, entendo o quão difícil é ser pai. E quando se é pobre ou vive na pobreza, isso torna tudo ainda mais difícil. Com o país em crise econômica e financeira vejo pais todos os dias que lutam financeiramente. Minha passagem pela Santa Casa de SP mostrou as dificuldades que pais e famílias lutam para cuidar de seus filhos e familiares com um mínimo de dignidade.
Viver nesse “modo de sobrevivência” é estressante. Imagine o desafio de criar crianças enquanto trabalha em vários empregos para evitar o despejo, ou quando você não tem acesso a um bom transporte ou assistência infantil. Esses pais usam a maioria de seus recursos físicos e emocionais simplesmente para ajudar suas famílias a sobreviverem. Viver neste ambiente estressante é difícil para as crianças, também, e pode afetar sua saúde a longo prazo.
Sabemos que cada pai quer ser o melhor pai possível, e os pediatras querem ajudar. Em sua nova declaração de política, a Academia Americana de Pediatria (AAP) pede aos pediatras que conversem com famílias sobre assuntos como: se eles tem comida suficiente ou se estão lutando para encontrar habitação a preços acessíveis ou cuidados infantis. Fazer as perguntas é importante. É impossível saber quem precisa de ajuda a menos que perguntemos. Observem que estamos falando dos Estados Unidos, onde existe essa preocupação, a verdade é que a pobreza está em todo o lado.
Enquanto os centros de grandes cidades e as áreas rurais têm as maiores taxas de pobreza, os maiores e mais rápidos aumentos na pobreza desde a recessão de 2008 estão nas periferias e nas comunidades. Hoje, 1 em cada 5 crianças (cerca de 15,5 milhões) nos EUA vivem na pobreza.
No Brasil, cerca de 17 milhões de crianças até 14 anos – o que equivale a 40,2% da população brasileira nessa faixa etária – vivem em domicílios de baixa renda. A situação piora nas regiões mais pobres, no Norte e no Nordeste, onde mais da metade das crianças [60,6% e 54%, respectivamente] vivem com renda domiciliar per capita mensal de no máximo meio salário mínimo. Desse total, 5,8 milhões vivem em situação de extrema pobreza, caracterizada quando a renda per capita é inferior a 25% do salário mínimo.
Os dados fazem parte do relatório Cenário da Infância e Adolescência no Brasil, documento que faz um panorama da situação infantil no país, divulgado pela Fundação Abrinq. O universo de crianças e adolescentes entre 5 e 17 anos que trabalhavam somou 2,67 milhões em 2015. Mais de 60% delas são do Nordeste e do Sudeste, mas a maior concentração ocorre na Região Sul.
Mas nem tudo é desgraça, este estudo mostra também dados positivos, como a taxa de cobertura em creches do país, que passou de 28,4% em 2014 para 30,4% em 2015 – ainda distante da meta estabelecida pelo Plano Nacional de Educação, de chegar a 50% até 2024.
Por meio de nossa Fundação, como membro do NCPI – Núcleo de Ciência pela Infância- temos lutado com nossos parceiros sobre a importância do cuidado com a primeira infância, ou os primeiros 1000 dias. Políticas públicas como o Marco Regulatório da Primeira Infância, Brasil Carinhoso, SP carinhosa, Mãe Coruja, PIN e tantas outras ajudam a melhorar a infância de algumas crianças.
Num país com tantas mazelas e num mundo onde a concentração de renda só aumenta, devemos pedir aos nossos governantes e à nossa sociedade que olhe para nossas crianças.
Soluções simples como as campanhas de leitura para crianças, projetos de creches e educação infantil ajudam nesse sentido. Lembre-se: você é o primeiro e melhor professor da sua criança. Fale e leia seu filho todos os dias e entre em contato com as Unidades Básicas de Saúde (UBS) ou equipes de Saúde da Família, os CRAS (Centros de Assistência Social). Se trabalharmos juntos, seu filho pode crescer para ser um grande sucesso e ter um futuro maravilhoso.
Saiba mais:
Autor: Dr. José Luiz Setúbal
Fonte:
(Declaração de Política da AAP) Benard P. Dreyer, MD, FAAP, foi presidente da Academia Americana de Pediatria
As informações contidas neste site não devem ser usadas como um substituto para o cuidado médico e orientação de seu pediatra. Pode haver variações no tratamento que o pediatra pode recomendar com base em fatos e circunstâncias individuais.