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Dr. Guilherme Polanczyk durante palestra no 7º Congresso Internacional Sabará-PENSI de Saúde Infantil. Um estudo liderado por ele envolvendo mais de 5.700 jovens brasileiros durante a pandemia revelou índices alarmantes: cerca de 30% apresentaram sintomas de ansiedade, 29% sintomas de depressão e 36%
Dr. Guilherme Polanczyk é médico psiquiatra com especialização em psiquiatria da infância e adolescência. Livre-docente e professor associado do Departamento de Psiquiatria da Faculdade de Medicina da USP, também é chefe do Serviço de Psiquiatria da Infância e Adolescência do Instituto de Psiquiatria da USP. Este texto foi elaborado a partir de uma entrevista concedida ao Instituto PENSI e complementado com informações apresentadas em sua aula magna no 7º Congresso Internacional Sabará-PENSI de Saúde Infantil.
Nos últimos anos, o aumento significativo dos transtornos mentais entre jovens tem gerado preocupação entre pais, educadores e profissionais de saúde. Para compreender esse cenário, o dr. Polanczyk apresenta um panorama sobre os desafios e caminhos para promover o bem-estar emocional.
A crise em saúde mental, especialmente entre os jovens, tem sido motivo de estudos e alertas globais. Em 2021, a Academia Americana de Psiquiatria da Infância e Adolescência, em parceria com uma associação nacional de hospitais dos Estados Unidos, declarou uma emergência em saúde mental no país. Esse cenário foi corroborado por um relatório do cirurgião-geral que lidera o Serviço de Saúde Pública dos EUA (U.S. Public Health Service Commissioned Corps – USPHS), responsável por aconselhar o governo e a população sobre questões de saúde, cargo equivalente ao de uma autoridade de saúde pública no Brasil, como o Ministro da Saúde ou o Secretário Nacional de Saúde. O relatório destacou a gravidade do problema e a necessidade de medidas urgentes. Segundo o dr. Polanczyk, é crucial refletirmos sobre como chegamos a esse ponto e quais fatores contribuíram para o agravamento dessa situação. Ele observa que, ao longo dos anos, tem sido evidente o aumento de casos de transtornos mentais em consultórios, ambulatórios e serviços de emergência.
Dados concretos ajudam a ilustrar a gravidade do problema. Nos Estados Unidos, entre 2009 e 2017, a prevalência de depressão em jovens de 12 a 17 anos aumentou de 8% para 11%. Entre os adultos jovens, de 18 a 25 anos, os números também cresceram significativamente, assim como os casos de pensamentos suicidas, que subiram de 7% para mais de 10% no mesmo período. No Brasil, a situação não é menos preocupante. Dados de 2019 revelam um aumento nas taxas de suicídio entre jovens de 15 a 19 anos, atingindo 6,36 por 100 mil habitantes. Segundo o dr. Polanczyk, esse crescimento já era observado antes mesmo da pandemia e se intensificou durante o isolamento social imposto pela covid-19.
A pandemia trouxe desafios adicionais à saúde mental de crianças e adolescentes. O isolamento social, o medo da doença, as perdas familiares e as dificuldades econômicas geraram um aumento expressivo nos casos de ansiedade, depressão e outros transtornos. Um estudo liderado pelo dr. Polanczyk durante esse período, envolvendo mais de 5.700 jovens brasileiros, revelou índices alarmantes: cerca de 30% apresentaram sintomas de ansiedade, 29% sintomas de depressão e 36% manifestaram sinais combinados de ambas as condições. Esses números destacam o impacto profundo e duradouro da pandemia na saúde mental da população mais jovem.
Para entender a complexidade dos transtornos mentais, é necessário reconhecer que esses problemas envolvem uma ampla variedade de condições. Segundo o dr. Polanczyk, a saúde mental pode ser definida como o desenvolvimento emocional esperado em crianças e adolescentes, caracterizado pela aquisição de autonomia, pela capacidade de resolver problemas e pela contribuição plena para a sociedade. Quando esse desenvolvimento apresenta desvios, surgem os transtornos mentais, que incluem desde condições emocionais e internalizantes, como ansiedade, depressão e reações ao estresse, até transtornos do neurodesenvolvimento, como autismo, transtorno de déficit de atenção e hiperatividade (TDAH) e transtornos de aprendizado. Também se incluem nessa lista os transtornos externalizantes do comportamento, como agressividade, violação de normas sociais e abuso de substâncias. Embora essas condições apresentem características próprias, elas compartilham fatores de risco comuns, incluindo aspectos cognitivos e biológicos.
O dr. Polanczyk ressalta que a compreensão aprofundada dos transtornos mentais é essencial para identificar os fatores que prejudicam ou promovem o desenvolvimento emocional saudável. Ele argumenta que, ao entendermos melhor esses transtornos, podemos fortalecer as estratégias de prevenção e tratamento. Isso inclui intervenções clínicas e a promoção de um ambiente familiar e social que apoie o bem-estar dos jovens. Ele enfatiza que o apoio de pais, escolas e comunidades é fundamental para que crianças e adolescentes possam superar desafios emocionais e construir vidas equilibradas e satisfatórias.
Compreender e enfrentar os transtornos mentais em crianças e adolescentes exige um esforço conjunto de profissionais de saúde, educadores e sociedade como um todo. O panorama apresentado pelo dr. Polanczyk aponta caminhos para promover o bem-estar emocional. Reconhecer os sinais precoces de transtornos, oferecer suporte adequado e investir em educação sobre saúde mental são passos fundamentais para garantir que os jovens tenham a oportunidade de se desenvolver plenamente, com mais equilíbrio e qualidade de vida.
Por Rede Galápagos
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