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Insegurança alimentar é quando alguém não tem acesso pleno e permanente a alimentos. Hoje, em meio à pandemia, mais da metade da população brasileira está nessa situação, nos mais variados níveis: leve, moderado ou grave. E a insegurança alimentar grave afeta 9% da população – ou seja, 19 milhões de brasileiros estão passando fome.
Segundo a Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF) 2017-2018, publicada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em 2020, o Brasil voltou ao Mapa da Fome, uma vez que 37% dos domicílios brasileiros conviviam com algum grau de insegurança alimentar e nutricional no país.
O Estudo Nacional de Alimentação e Nutrição Infantil (Enani) também mostra que 80% das crianças consomem ultraprocessados com frequência e há indícios de aumento do consumo durante a pandemia. Já pelo Inquérito Nacional sobre Insegurança Alimentar da Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional (Rede PENSSAN), publicado em 2021, 55% dos domicílios brasileiros se encontram em Insegurança Alimentar e 9% convivem com a fome.
Uma pesquisa do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), publicada em dezembro de 2021, entrevistou 1.343 famílias vivendo na Amazônia Legal, no Semiárido Brasileiro e em dez capitais com beneficiários do Programa Bolsa Família responsáveis por crianças de 0 a 5 anos e 11 meses. No estudo, foram encontrados dados como: a maioria dos domicílios tem a figura materna como a principal responsável pelo sustento da família (56%); Cerca de 80% das famílias relataram o consumo de, ao menos, um tipo de alimento ultraprocessado no dia anterior ao da entrevista; Durante a pandemia, 72% das famílias afirmaram que alguma criança pequena que reside na casa deixou de fazer uma refeição ou não comeu a quantidade suficiente de comida porque não havia dinheiro para comprá-la.
Alimentos ultraprocessados são alimentos fabricados pela indústria a partir de substâncias extraídas ou derivadas de alimentos ou sintetizadas em laboratório, com base em matérias orgânicas como petróleo e carvão (corantes, aromatizantes, realçadores de sabor e diversos aditivos). Os exemplos são vários tipos de biscoitos, sorvetes, balas, temperos instantâneos, salgadinhos, refrigerantes, entre outros. São alimentos ricos em gorduras, sal e açúcares e pobres em nutrientes. Além disso, elevam os riscos de desenvolvimento de doenças não transmissíveis, como diabetes, doenças cardiovasculares e até mesmo o câncer.
Neste ano, nós da Fundação José Luiz Egydio Setúbal temos como tema de estudo para o nosso Fórum de Políticas Pública a Segurança Alimentar. Os dados acima foram levantados para a fase inicial de discussão e, embora não sejam novidade, acabaram por nos deixar mais preocupados. Dados da Fundação Abrinq mostram que 18 milhões de crianças estão em situação de insegurança alimentar no Brasil.
Há três graus de insegurança alimentar: o leve, o moderado e o grave, que acontecem pela preocupação em não ter o que comer, pela falta de acesso pleno a alimentos até a fome de fato. Qualquer grau de insegurança alimentar pode causar comprometimento na saúde, indo de deficiências de proteínas e carboidratos à falta de micronutrientes, como minerais e vitaminas, até chegar ao extremo, quando o corpo parar de funcionar.
Quando falamos de crianças que passam fome, a coisa muda de figura. Elas podem ter um comprometimento importante no desenvolvimento e um déficit de estatura por idade, causando a desnutrição crônica. A fome também está associada a déficits cognitivos, pois pode causar anemia, que é a ausência de ferro, importante no desenvolvimento de órgãos, tecidos e para o funcionamento cerebral. E esse déficit pode ser irreversível em situações graves, principalmente durante a primeira infância, ou seja, nos primeiros 1.000 dias, que vão da gestação aos 3 anos. A desnutrição proteico/calórica pode causar danos cerebrais nessas crianças que não poderão ser corrigidos. Três ou quatro anos de fome em crianças nessa idade podem comprometer toda uma geração de crianças que estão no Mapa da Fome. Certamente, isso irá aumentar ainda mais a desigualdade brasileira, pois essas crianças terão mais dificuldade de aprendizado e mais problemas de saúde, entrando em um ciclo de pobreza.
Existe uma série de programas de combate a fome e de auxílio à insegurança alimentar. Organizações como a Fundação Abrinq, Pastoral da Criança, Associação Prato Cheio e Unicef contam com esse tipo de programa, alguns dos quais nossa Fundação ajuda. Se você quer fazer alguma coisa, procure se informar e faça sua parte. Não adianta só chorar pelas nossas crianças.
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